LUSA: “Neste museu os objectos podem ser propostos por qualquer um”

O jornalista João Gaspar/ LUSA esteve na Conferência de Imprensa de apresentação do programa para o Museu do Francisco Tropa onde foram anunciados os nomes de Carlos Antunes, Nuno Porto e Laurindo Marta para director, curador e conservador, respectivamente. O P3 publicou o texto.
 


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Uma obra de arte de Francisco Tropa, que é também um museu e que foi apresentada terça-feira em Coimbra, vai começar a receber propostas a partir de Janeiro de objectos para serem expostos no espaço.
 

A obra de arte, intitulada “Museu” — que conta com um director, um curador e um conservador —, foi desenhada por Francisco Tropa em 2001 e construída propositadamente para a primeira edição da bienal de arte contemporânea de Coimbra, que decorreu entre Outubro e Novembro. O espaço, com dimensões de seis por três metros, situado na Praça das Cortes, na margem esquerda do rio Mondego, vai passar a ter expostos objectos propostos pelos cidadãos, residentes ou não em Coimbra.
 

Em Janeiro, anúncios nos jornais locais convidarão os cidadãos a propor objectos para serem futuramente expostos no museu, que são depois seleccionados pelo diretor do museu e objecto de intervenção por parte do curador. O director do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC) e agora também director do museu, Carlos Antunes, sublinha que se está perante uma obra de arte que vai acolher no futuro objectos, sejam ou não arte, propostos pelas pessoas. Exemplificando, Carlos Antunes apontou para o microfone de uma das jornalistas presentes na apresentação do museu, frisando que esse objecto, “que vai ouvindo e registado a história da cidade”, pode ele mesmo ser exposto.
 

“Não é nenhuma graça. O objectivo é o de que as pessoas passem de espectadores para potenciais proponentes de uma obra” que pode estar presente no museu. A forma de funcionamento do “Museu” não foi agora definida, explanou, aclarando que esta segue o programa artístico pensado por Francisco Tropa para a obra. O espaço poderá ser renovado algumas vezes por ano, esperando-se que, depois do anúncio em Janeiro nos jornais locais, seja possível haver objectos expostos no espaço já em Março.
 

O conservador do espaço será o jovem de Cantanhede Laurindo Marta e o curador será Nuno Porto, que foi docente de Antropologia na Universidade de Coimbra e que actualmente é responsável pela curadoria de África e Brasil no Museu de Antropologia de Vancouver. Para Nuno Porto, esta obra permite “pensar na natureza do museu”, considerando que o espaço em si é uma “crítica sobre a memória e o abandono a que a memória tem sido votada”. No “Museu”, vai-se abordar a questão da memória como algo aberto a todos e “não como propriedade de alguém” — um espaço para ouvir a cidade e debatê-la, apontou.
 

Sem limite de número de peças (apenas com a condição de que estas têm de passar pelas clarabóias do museu que têm um metro quadrado) nem limite de temas, a curadoria e o programa desenhado para o museu será sempre feito em torno daquilo que as pessoas propõem e sobre “aquilo de que querem falar”. No fundo, quer-se “tornar público os problemas que estão menos visíveis e retirá-los do silêncio”, sublinhou Nuno Porto. Também presente na apresentação, a vereadora da Câmara Carina Gomes sublinhou que este espaço é um exemplo da dinâmica criada pela bienal Anozero, que, apesar de ainda ter “uma curta vida”, tem sido “intensa”.