Família / Pedro Costa e Rui Chafes

 

Família resulta de um diálogo entre esculturas de Rui Chafes e filmes de Pedro Costa realizados em Cabo Verde em 1994 durante a rodagem de Casa de Lava. A este diálogo juntam-se as vozes de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet através do seu filme tributo a Mallarmé.

 

Rui Chafes e Pedro Costa_Familia_Foto Jorge Neves

Escultura de Rui Chafes [fotografia de Jorge Neves]

 

 

O passado, na sua voragem intransigente, dizem-nos os modernos, não poderá ser capturado senão através de uma imagem parcial, uma imagem quebrada pelo exercício do ver. Ele é apenas ruínas e espectáculo, património da nossa complacência e curiosidade, nada mais. Admitamos, porém, que uma outra procura vem reanimar a porção material desse passado, que os usos que podemos dar à palavra tempo nos sugerem sentidos renovados, evocações plenas de desvios.

Falo de Família de Rui Chafes e Pedro Costa. Falo do criptopórtico de Aeminium onde os artistas fazem inscrever o seu gesto de radical redefinição e ponderação dos sortilégios do acontecido. Neste lugar onde a declinação museológica e patrimonial faz recompor o território de destruições e fragmentos que a arqueologia soube constatar, neste lugar desprovido das implicações e sequelas que o habitar terá tecido um dia, Rui Chafes e Pedro Costa abraçam o enigma e o apagamento que a história – narrativa truncada e lateral de algo que a irreversibilidade moderna condenou à desaparição – parece ter realizado.

Como tornar os tempos reversíveis, fundamentalmente reversíveis? Como reconhecer o idioma de uma comunidade ausente? Essa é, talvez, uma das mais fecundas interrogações que «Família» de Rui Chafes e Pedro Costa suscita. «Família» é uma realização que apela à possibilidade de dobragem: dobrar o tempo, fazer com que o distante se torne próximo, contíguo, inquietantemente íntimo. Fazer com que as diferenças se toquem, e que os espectros do passado adquiram a sensualidade (e com ela, a mortalidade) dos incautos espectadores desse tempo presente, que não é mais do que a hipotética e improvável afirmação da distância.

O diálogo entre Rui Chafes e Pedro Costa realiza-se assim numa afirmação da reversibilidade. A história não é um ponto de vista ou um ponto de fuga, mas uma comensurabilidade de mundos tornados inquietantemente mortais. A história despedaça-se como um navio de encontro às falésias, para revelar uma identidade profunda. A identidade que se estabelece face-a-face, numa co-presença em que o passado se torna estranhamente carnal.

Toda a revolução é um lance de dados, dir-nos-iam certamente Danièle Huillet e Jean-Marie Straub, porque toda a revolução é a radical abertura onde a diferença é reconhecida, e nesse movimento, se reconhece como diferença, como exterioridade.

 

Adaptado e editado a partir do texto de Luís Quintais
Ficha técnica

produção coproduction Círculo de Artes Plásticas de Coimbra
montagem assembly Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Carlos Venâncio, Leonardo Simões (imagem), João Dias (montagem de imagem)
mecenas sponsor Turismo do Centro
parceiros estratégicos strategic partners Millennium BCP, Optec, Prosonic/Panasonic
iluminação lighting Climar
agradecimentos especiais special thanks to Galeria 111 , Ana Alcoforado, Barbara Ulrich, Fernanda Alves, Jean-Marie Straub, Ricardo Mesquita

Artistas

Jean-Marie Straub e Danièle Huillet

Pedro Costa

Rui Chafes


Espaços

12 | Museu Nacional Machado de Castro


Data início

31/10/2015


Data fim

31/01/2016


terça 14h-18h / quarta-domingo 10h-13h e 14h-18h